Era o ano de 1982, nas avenidas do Brasil os carros do ano eram o Fusca, Opala, Monza, Chevete, Fiat 147, entre outros, o rock nacional começava a ganhar mais espaço nas FMs, não havia Nike nem outras marcas de tênis famosas, a maioria dos jovens andava de Bamba, Kichute ou Conga. Não existia Windows e os poucos computadores operavam o DOS ou equivalentes. O Odyssey e o Atari 2600 ainda não sido lançados no Brasil, não existiam videogames somente os "Fliper". Não existiam o CD ou DVD, somente Vinil e fitas K7, e a maioria dos Vídeo Cassetes era obtida pelo contrabando. Vivíamos sob o governo militar do Gen. João Batista Figueiredo, que proferiu a seguinte frase:
"- Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo."
A internet ainda não existia, celulares não existiam, telefone fixo era artigo de luxo, as informações sobre o mundo eram passadas pelos jornais impressos e pela televisão ( Rede Globo), a informação passada ao publico tinha que ter aval dos orgãos oficiais, tudo era censurado. A moeda chamava-se Cruzeiro, a inflação chegaria há 110 % ao mes, o salário mínimo em maio era Cr$ 16.608,00. Haviam muitas dúvidas em relação ao futuro do país. Tínhamos uma de nossas melhores seleções de futebol com Zico, Falcão, Sócrates, Junior, entre outros. O mundo era mais simples e estava dividido em dois blocos, um capitaneado pelos EUA e outro pela URSS. Era 1982, e eu tinha 10 anos quando a Guerra das Malvinas começou, no inicio parecia uma coisa distante para nós brasileiros. Com a evolução do conflito a guerra foi se aproximando cada vez mais próximo de todos nós.
Dia 02 de Maio de 1982 é um dia a ser lembrado na Argentina. Neste dia tombaram em combate 323 argentinos, vitimas do afundamento do Cruzador General Belgrano. Talvez o ato mais brutal daquela guerra. Apesar de ser um assunto extenso e complexo a Guerra das Malvinas, foi um divisor de aguas para a América do Sul, suas implicações políticas foram extensas. Deixou marcas profundas na nação Argentina que poucos de nós brasileiros sabem o que esta guerra representou para o povo argentino. Transcrevo abaixo uma reportagem do site poder naval.
O afundamento do cruzador ARA ‘General Belgrano’ nas Malvinas
O almirante Woodward em seu livro “One Hundred Days” conta que a Frota Britânica, no dia 2 de maio de 1982, estava dentro da zona de exclusão de 200 milhas imposta pela Inglaterra à Argentina em torno das Malvinas, posicionada em algum ponto à nordeste das ilhas.Às 3h20 da manhã, Woodward foi acordado por seu staff, com o aviso de que um aviãoTracker tinha iluminado sua Força-Tarefa com o radar de busca e que os argentinos agora sabiam sua posição.Um jato Sea Harrier foi enviado para a marcação do contato, a fim de investigar. O jato britânico mais tarde informou que durante o voo, seu RWR (Receptor de Alerta Radar) registrou que o caça foi iluminado por um radar de direção de tiro, Type 909, que equipava os destróieres Type 42 argentinos. Desta forma, confirmou-se a presença, a cerca de 200 milhas de distância da FT britânica, do NAe 25 de Mayo e de suas escoltas Type 42, Santissima Trinidad e Hercules.Woodward sabia que o 25 de Mayo levava 10 jatos Skyhawk com 3 bombas de 500kg cada, o que significava um possível ataque de 30 bombas à FT britânica, logo após o amanhecer. E ainda havia o temor de que os jatos Super Étendard também pudessem decolar do 25 de Mayo, com Exocets.Para piorar a situação, 200 milhas ao sul das Ilhas Malvinas, o cruzador General Belgrano e duas escoltas estavam à espreita e poderiam chegar em poucas horas à distância de tiro de seus Exocet contra a FT britânica.O navio era o sexto da classe, com construção iniciada em 1935 e lançamento em 1938. Ele escapou do ataque japonês à Pearl Harbor em 1941 e foi descomissionado em 1946, sendo transferido à Argentina em 1951. Além dos canhões, o General Belgrano também tinha recebido lançadores de mísseis ExocetMM38, assim como suas escoltas. O almirante britânico percebeu que o 25 de Mayo e o Belgrano estavam fazendo um movimento em pinça e que um dos dois precisava ser eliminado. Como a posição do navio-aeródromo argentino não era conhecida, o Belgrano foi o escolhido.
Ara 25 de Maio |
O submarino nuclear HMS Conqueror, comandado por Christopher Wreford-Brown, estava acompanhando o cruzador argentino de perto há dois dias, enquanto o submarino HMSSpartan ainda não tinha encontrado o navio-aeródromo argentino. O HMS Conqueror descobriu um navio-tanque argentino e o acompanhou até o ponto de encontro com o Belgrano e assistiu à operação de reabastecimento. As ROE (Regras de Engajamento) não permitiam ao HMS Conqueror disparar contra oBelgrano, pois o mesmo se encontrava fora da Zona de Exclusão.
O almirante Woodward precisava pedir ao Comandante-em-Chefe na Inglaterra para alterar as ROE e ordenar ao Conqueror o afundamento do Belgrano imediatamente. Mas o pedido enviado à Inglaterra por satélite iria demorar muito, o que poderia fazer com que o submarino britânico perdesse contato com seu alvo. Sendo assim, Woodward ordenou o ataque enviando a seguinte mensagem ao submarino:From CTG (Commander Task Group) 317.8 to Conqueror, text prority flash – attack Belgrano group. Ao mesmo tempo, solicitou permissão da revisão da ROE, esperando que ele fosse atendida, pela emergência da situação. O Grupo-Tarefa do Belgrano estava navegando a 13 nós, acompanhado pelo HMS Conqueror, que fazia perseguição padrão “sprint-and-drift”, que consiste em navegar em grande profundidade a 18 nós por 15 ou 20 minutos, depois indo para a cota periscópica, navegando a 5 nós, a fim de atualizar a posição do alvo pelo oficial de controle de tiro. Depois, a perseguição começava novamente. O temor de Woodward e do comandante do submarino era o Belgrano rumar para o Banco Burdwood, uma elevação no fundo do mar que obrigaria o submarino a navegar numa profundidade menor e perder o contato com o cruzador e seu grupo. Por isso a pressa em tomar logo a iniciativa de afundá-lo, enquanto havia contato com ele.Às 0810Z do dia 2 de maio, o GT do Belgrano mudou de curso, agora rumando para o continente. Às 1330Z, o Conqueror recebeu o sinal de mudança de ROE vindo da Inglaterra.O Comandante do HMS Conqueror, Christopher Wreford-Brown, comentou mais tarde suas impressões sobre a navegação tática do Belgrano. O comandante do navio, capitão Hector Bonzo, parecia não estar nem um pouco preocupado em ser alvo naquele momento.Navegava a 13 nós, com os escoltas mais à frente, num leve ziguezague. O comandante do navio argentino não era submarinista e parecia conhecer pouco de submarinos, principalmente de nucleares. Se conhecesse, estaria navegando em velocidade bem mais alta, com os escoltas lado a lado protegendo seu costado e fazendo um ziguezague mais agressivo, para evitar possíveis torpedos. Para completar, os escoltas do Belgrano estavam navegando com os sonares ativos desligados. Às1830, o HMS Conqueror aproximou-se do Belgrano em alta velocidade por bombordo, passando por baixo dele e indo para a cota periscópica por boreste, a fim de conseguir uma boa solução de tiro. O comandante Christopher já tinha se decidido em usar velhos torpedos de tiro reto Mk.8 da Segunda Guerra Mundial, pois levavam maior carga explosiva e eram mais confiáveis que os novos Tigerfish Mk.24, guiados a fio. Os tubos foram carregados com 3 torpedos Mk.8 e 3 Mk.24, por precaução. Os torpedos foram disparados à proa do Belgrano, para que encontrassem o navio numa posição futura. Segundo o comandante do Conqueror, os disparos dos torpedos foram feitos à “queima-roupa”, à distância de 1.380 jardas (1.255m), com os operadores de sonar do Conquerorouvindo bem alto o característico som dos hélices do Belgrano, algo parecido com “Chuff-chuff-chuff… chuff-chuff-chuff…”. Após 55 segundos do primeiro disparo, o primeiro torpedo explodiu na proa do cruzador, no ponto após a âncora e antes da primeira torreta. A proa foi arrancada pela explosão. O comandante Christopher viu a explosão pelo periscópio e ficou abismado. Logo veio a explosão do segundo torpedo, que atingiu o navio na altura da superestrutura. O terceiro torpedo acabou errando o Belgrano e explodiu por acionamento da espoleta de proximidade, na popa do destróier argentino ARA Bouchard, sem maiores danos. Vinte minutos depois do ataque, o comandante do Belgrano ordenou à tripulação o abandono do navio, o que foi feito sem pânico, em botes salva-vidas infláveis.
Como estava escuro, as escoltas do Belgrano não sabiam ainda o que havia acontecido, pois o cruzador após o ataque ficou sem rádio. Quando as escoltas perceberam o ocorrido, tentaram inutilmente o lançamento de cargas de profundidade. Navios argentinos e chilenos resgataram 770 tripulantes do Belgrano do mar, entre os dias 3 e 5 de maio. Um total de 323 homens pereceram no ataque, entre eles dois civis.
A foto abaixo mostra o HMS Conqueror, retornando à Inglaterra após a Guerra das Malvinas, com sua bandeira de pirata Jolly Roger hasteada, que ao invés dos tradicionais dois ossos cruzados com a caveira, tem dois torpedos.
Fonte: www.naval.com.br
Conclusão
A Argentina em 1982 vivia sobre uma ditadura violenta, talvez mais violenta que a do Brasil, com uma enorme crise econômica. Como o Brasil era governada por uma junta militar, e seu presidente Leopoldo Galtieri escolheu em 1982, apoiado pela junta militar, reconquistar as Ilhas Malvinas dos ingleses. A Argentina há anos vinha pleiteando a soberania das ilhas, mas em 1982 o governo militar decide pela ação militar em busca do apoio popular, na esperança de fazer o povo desviar a atenção da crise econômica e da falta de liberdade. Galtieri adotou a solução armada na esperança de que os britânicos apenas protestassem contra a invasão, ele acreditava que a enorme distancia do Reino Unido até as Malvinas, aliado as dificuldades logísticas desencorajariam os britânicos a tentar uma resposta militar, também esperava receber apoio dos EUA, pois os EUA foram os responsáveis pela implantação das ditaduras de direita, como a ditadura Argentina, em toda a América Latina, sendo assim a Argentina mantinha fortes laços com os EUA, esperando no mínimo uma neutralidade americana. Do lado britânico as coisas também não andavam bem, o governo de Margaret Thatcher enfrentava uma crise econômica de grandes proporções com inflação e niveis de desemprego alarmantes. Tatcher estava sob forte pressão política e até a vitória na Guerra das Malvinas era considerada a primeira ministra mais impopular da história segundo diversos historiadores. A guerra caiu como uma luva para seu governo pois com isso conseguiria recuperar o apoio perdido devido a crise e ao desemprego. As forças britânicas eram superiores as argentinas, mas devido a enorme distancia do Reino Unido a vantagem pendia para o lado argentino devido a proximidade das ilhas com o continente. Devido a restrição de cortes nas forças armadas as forças britânicas não estavam completamente preparadas para uma guerra convencional. Mas os britânicos receberam apoio total de seus velhos aliados, os EUA. Os argentinos por sua vez recusaram apoio soviético. Os EUA assim desrespeitaram totalmente a OEA e seu compromisso de ajuda mútua. Após o inicio das hostilidades ficou evidente que não seria facil para os britânicos reconquistar as ilhas apesar do apoio americano.
Continua ...
Fernando Franco
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