sábado, 19 de março de 2011

Operação Lagosta - Parte III Final

Operação Lagosta - Parte III Final
A guerra que não aconteceu


O Tartu é substituído

A França resolveu enviar o Tartu de forma solitária. Mais cedo ou mais tarde um navio-tanque teria que abastecê-lo e prestar apoio logístico ou uma outra unidade de combate seria enviada para substituí-lo. Caso o navio-tanque Baise deixasse o grupo do Clemenceau, este e os outros nove navios que o acompanhavam ficariam sem suporte. Sobrava então a opção de substituir o Tartu por outro navio equivalente que acompanhava o grupo do Clemenceau. No entanto, a decisão surpreendeu os brasileiros e até mesmo muitos franceses. Decidiu-se enviar o aviso Paul Goffeny, reconhecidamente um navio muito menos capaz que o Tartu. Era um navio limitado em todos os sentidos para operar distante de um grupo de apoio ou de bases costeiras. Em alguns aspectos exercia atividades semelhantes às corvetas Imperial Marinheiro da MB, sendo um pouco maior e mais armado que estas últimas, porém mais desatualizado. 
As estações radiogoniométricas passaram a rastrear as emissões eletromagnéticas do Paul Goffeny também e descobriram que o encontro entre o Tartu e o Aviso francês ocorreria no dia 2 de março. 


O comandante do GT 12.2 ordenou então que o contratorpedeiro Pará se dirigisse para o local provável do encontro. Às 9:15h um avião da FAB comunicou ao Pará que já orbitava sobre os navios franceses e passou a posição para o contratorpedeiro brasileiro. O contato visual com o contratorpedeiro francês ocorreu às 10:34h. Junto com ele estavam o Paul Goffeny e os seis pesqueiros. O Pará passou a acompanhá-los de longe e às 12:59h o Tartu adotou o rumo 032º, em direção à África. Mesmo assim, o Pará permaneceu na região acompanhando a movimentação dos navios. No dia seguinte foi rendido pelo Pernambuco. 



Uma mensagem do Tartu para Dacar solicitando o seu reabastecimento foi interceptada, indicando que o mesmo realmente se retirava da área. Para confirmar esta informação, os P-15 acompanharam a viagem de retorno do Tartu por um longo tempo. 



A troca do Tartu pelo Paul Goffeny foi um grande alívio para os brasileiros. De certa forma era uma clara indicação de que o governo francês havia recuado, mas não capitulado. O assunto também perdeu destaque na imprensa e o povo francês teve o seu interesse grandemente reduzido. Somente entre os armadores de Camaret houve uma revolta contra a atitude de seu governo.

O navio  Paul Goffeny

Chegada dos reforços 

Enquanto parte dos navios da Marinha deslocados para a zona de operação sofria reparos de emergência, os navios do GT 12.2 continuavam monitorando os pesqueiros franceses e o Goffeny. O Pará que havia rendido o Paraná, seguia acompanhando o grupo francês. Ainda no dia 7 de março um dos seis pesqueiros retirou-se da área. O que parecia ser mais um alívio, transformou-se em tensão novamente quando notícias desencontradas davam conta que o contratorpedeiro Jauréguiberry (da mesma classe do Tartu) seguia para a costa brasileira. Mas este, posteriormente, tomou o rumo na direção de Dacar. No dia 8 mais um lagosteiro afastou-se do litoral brasileiro. 

Por volta das 18:00h do dia 9 o Araguari rendeu o Pará e este retornou para Recife assim que passou o serviço. Na manhã do dia 10 o Paul Goffery e os quatro lagosteiros afastaram-se do Atol das Rocas seguindo na direção de Dakar. A informação foi confirmada por uma aeronave da FAB. Parecia ser o fim de um período de muita tensão. 


Posteriormente soube-se que a decisão foi muito mais econômica do que política. Os navios de pesca, por estarem fora da plataforma continental, ficaram sem pescar por mais de um mês, acarretando grande prejuízo para os armadores. 



Considerações finais

A Operação Lagosta (ou Guerra da Lagosta como ficou mais conhecida na imprensa nacional) foi mais um exemplo dentre vários existentes na história brasileira de como o país é dependente de suas Forças Armadas para garantir sua soberania e seus interesses, ambos questionados pela França neste episódio. A França, uma das últimas nações do mundo que o Brasil poderia imaginar ter que enfrentar num conflito armado, tornou-se da noite para o dia uma ameaça concreta ao país. 


Pode-se, e deve-se, trabalhar com hipóteses de conflitos mais prováveis e enumerar potenciais agressores, mas as Forças Armadas devem sempre estar prontas para o pior e para o improvável, independentemente de como e de onde venha a ameaça. Isto já era uma verdade naquela época. No mundo atual é mais do que a garantia da sobrevivência.Pode-se dizer que foi um caso esporádico ou mesmo um evento solitário dentro de um amplo histórico de amizade entre os dois países e que uma situação como aquela dificilmente se repetiria. Para o desencanto dos defensores desta idéia, ela repetiu-se. No final de 1978, durante a chamada "guerra do camarão", França e Brasil chegaram a posicionar suas unidades militares nas proximidades do Cabo Orange, junto à fronteira entre os dois países (Amapá e Guiana Francesa). Nesta ocasião a mobilização foi menor e somente o contratorpedeiro Rio Grande do Norte foi deslocado do Rio de Janeiro. No referido evento, quatro pesqueiros de bandeira norte-americana foram metralhados por navios da MB e posteriormente apreendidos. Um deles, na época denominado Night Hawk, foi incorporado à MB e hoje serve ao CIABA. 



Se a atitude belicosa da França foi uma surpresa, o que dizer da reação do governo norte-americano em relação aos navios arrendados? Países aliados, e até mesmo parceiros em acordos de defesa mútua, podem assumir posições, se não neutras, diametralmente contrárias. Foi uma dura lição (e a história está cheia delas) de que não existem países amigos, mas sim países com interesses comuns. Quando estes interesses perdem o sentido ou são suplantados por outros interesses maiores, os países "amigos" afastam-se. A propósito, durante toda a crise, nenhum país, formal ou informalmente, apoiou ou sustentou a tese brasileira. 



Aprendeu-se muito com o episódio. A mobilização tempestuosa das unidades, dada a urgência do caso, mostrou que uma marinha deve possuir um número mínimo de unidades sempre preparadas para situações emergenciais. Para isso, ela deve estar devidamente equipada e seus homens perfeitamente adestrados durante o período de paz. Depender de verbas contingenciadas e ficar no aguardo de promessas de novas emendas e créditos suplementares, que vagam ao sabor de congressistas despreparados, não é a forma mais correta de se ter uma marinha atuante. 



Uma avaliação posterior indicou que a mobilização e o envio de um grande número de navios de combate foi desnecessária. Porém, naquele momento, era difícil afirmar que a reação francesa limitar-se-ia somente ao envio do contratorpedeiro Tartu (posteriormente substituído pelo Aviso Paul Gofeny), sendo que na costa africana existia uma Força-Tarefa tão ou mais poderosa que toda a Marinha do Brasil. 


Por outro lado, a movimentação dos diversos navios da MB demonstrou a determinação do Brasil em manter a sua posição e transmitiu a impressão de que todos os meios estavam plenamente operantes e em estado de alerta. No caso da dúvida, a França resolveu não apostar no pior ou numa aventura militar descabida. Este é um exemplo clássico de dissuasão, tarefa básica do Poder Naval e papel fundamental de qualquer marinha que se preze. 


por Guilherme Poggio 
Fonte - Poder Naval Online: http://www.naval.com.br

Operação Lagosta - Parte II

Operação Lagosta - Parte II 
A guerra que não aconteceu

Manchete de um jornal da época

Começa a mobilização

Na noite do dia 21 de fevereiro (quinta-feira), o presidente Goulart reuniu-se com os ministros da Marinha e da Aeronáutica em Brasília. Nesta época, as duas Forças não possuíam um bom relacionamento, pois a disputa pela operação de aeronaves a bordo no NAeL Minas Gerais ainda existia. Posta de lado, esta questão não atrapalhou a elaboração de um plano que visava o reforço das unidades militares do Nordeste com o envio de pessoal e equipamento a partir do Rio de Janeiro. Esquadrões da FAB e unidades de superfície da Marinha deveriam ser deslocadas para a região o mais breve possível.

A mobilização efetiva ocorreu no dia 22, uma sexta-feira, véspera de carnaval. O Ministro da Marinha determinou a preparação de um Grupo-Tarefa composto por um cruzador e quatro contratorpedeiros. Este GT deveria seguir imediatamente para Recife. Um outro grupo composto por um cruzador, alguns contratorpedeiros e submarinos, assim que estivessem preparados, deveriam seguir viagem para o Nordeste também. A mobilização deveria seguir em frente sob sigilo máximo. No caso de indagações, a resposta deveria ser "exercício programado".

No dia 23 (Sábado de carnaval) o Conselho de Segurança Nacional reuniu-se no Palácio do Itamaraty. O Ministro das Relações Exteriores presidiu a reunião na ausência do presidente (então curtindo o carnaval em São Borja/RS). Após tomarem conhecimento dos últimos movimentos diplomáticos, os participantes passaram a discutir as medidas que deveriam ser implementadas. Dentre elas, a divulgação de declarações à imprensa com o intuito de mobilizar a opinião nacional para a grave situação enfrentada. 
Desde a primeira hora que o EMA (Estado Maior da Armada) soube do deslocamento de um navio de guerra francês para a costa brasileira, as Estações Radiogoniométricas* de Alta Freqüência (ERGAF) do Pina (localizada no Recife naquela época e transferida para Natal em 1994) e de Salinas de Margarida (Bahia) passaram a rastrear as emissões eletromagnéticas de todos os navios franceses navegando no Atlântico. A participação das ERGAF foi fundamental no acompanhamento dos navios durante a crise.



Os preparativos da Marinha 

Na manhã do dia 22 de fevereiro foram tomadas as primeiras medidas para a criação de um Grupo-Tarefa (GT). Inicialmente foi necessário convocar o mais breve possível oficiais e praças para guarnecer os navios, pois a maioria estava de férias. Havia também necessidade de aquisição de sobressalentes e mesmo material de uso comum. Para piorar a logística, o tanque arrendado junto à companhia ESSO em Recife tinha capacidade para apenas 6.000 t de combustível, quantidade insuficiente para atender todo o GT. Como se não bastasse isso, a esquadra naquela época não contava com um Navio-Tanque e foi necessário arrendar um da Frota Nacional de Petroleiros (FRONAPE), subsidiária da Petrobras. O navio escolhido foi o N/T Mato Grosso, que deslocava 21.000 t. 
Em relação ao material flutuante, os navios em melhores condições eram os contratorpedeiros da classe Pará (exceção feita ao Paraíba, cujas caldeiras estavam em manutenção) e o Greenhalgh (classe M). Estes navios podiam iniciar viagem de imediato. Algumas unidades da classe A também poderiam ser usadas, caso fosse necessário. Porém, a situação era crítica para os contratorpedeiros de escolta da classe Bertioga. Três estavam docados (Bracuí, Beberibe e Bocaina), dois preparavam-se para entrar no PNR (Babitonga e Bauru), o Benevente e o Bertioga tinham problemas com os eixos e o Baependi possuía restrições de velocidade. 

A situação dos submarinos não era muito melhor. O Humaitá foi descartado de imediato, pois não tinha condições de se mover. Já o Riachuelo necessitava de substituição total da sua rede de pressão, mas era possível colocar o mesmo em movimento em dez dias (de acordo com as primeiras análises). 

O estado dos dois cruzadores era preocupante. Os principais problemas com o Tamandaré estavam associados aos grupos destilatórios. Estimava-se que o mesmo não poderia ser reparado com menos de 15 dias. O Barroso poderia navegar, mas somente com quatro das suas oito caldeiras (o mínimo necessário para colocá-lo em movimento eram três). Até mesmo o NAeL Minas Gerais, que chegou ao Rio de Janeiro dois anos antes totalmente reformado, não tinha condições de se locomover. 

O quadro operativo dos navios da esquadra, bem como do armamento/munição foram expostos na reunião do Almirantado realizada a portas fechadas na tarde do dia 22. A situação era a seguinte: 

Munição - A situação era dramática. A dotação dos navios da esquadra (dotação de paz) poderia ser consumida em menos de trinta minutos durante um engajamento. Nos depósitos do Centro de Munição da Marinha (CMM) não existia munição suficiente para recompletar a dotação de paz de todos os navios (exceção feita aos projéteis de 20 mm). Para completar todos os navios com dotação de guerra, seria necessário o dispêndio de aproximadamente um milhão de dólares. Mesmo que a munição estivesse disponível, os batelões para distribuí-las entre os diversos navios da MB estavam em péssimo estado e não existiam em número suficiente para um atendimento urgente. 

Equipamentos de abandono e salvamento - Eram itens extremamente críticos nos navios da MB daquela época. Geralmente estes equipamentos possuem um período de validade e devem ser repostos com uma certa periodicidade. Em função da crônica falta de verbas, muitos itens da palamenta não atendiam ao número mínimo estipulado em acordos internacionais ou já estavam fora do período de validade. Foram liberados, em caráter emergencial, verbas no valor de Cr$ 20.000.000,00 para a aquisição de 800 coletes salva-vidas e 49 balsas, e no valor de Cr$ 5.899.680,00 para compra de1.200 conjuntos de ração de abandono. Essas aquisições atenuaram o problema, mas não o sanaram de vez. 

Lanchas dos navios - Situação lastimável. Dos oito contratorpedeiros de escolta (uma lancha por navio), só a lancha do Babitonga funcionava. Das dezesseis lanchas existentes nos outros 13 contratorpedeiros, só sete estavam em condições operacionais. Somando as lanchas dos dois cruzadores, somente três das dez estavam em bom estado.O recém-adquirido Minas Gerais possuía duas lanchas operando de um total de seis. 

Controle de Avaria e estanqueidade de compartimentos - Somente os navios da classe Pará resistiriam a uma inspeção ligeira por possuírem equipamento completo e em bom estado. Os demais navios, principalmente os de construção nacional (classe M e A), seriam condenados operativamente e impedidos de se movimentar por não possuírem as mínimas condições de segurança para navegar. 

Esquadrões da FAB em alerta 

Coube à FAB a realização de missões de esclarecimento marítimo com o emprego de aeronaves de longo alcance. O 1º/7º Grupo de Aviação, sediado em Salvador (BA), passou a realizar missões de esclarecimento da área marítima a leste do arquipélago de Fernando de Noronha, numa profundidade de 500 milhas.

Naquela época, o 1º/7º GAv estava equipado com aeronaves P2V Neptune. O Neptune nasceu no final da II Guerra Mundial fruto do acúmulo de vasta experiência norte-americana adquirida na caça aos U-boats alemães. Infelizmente chegou muito tarde para participar do conflito. A versão utilizada pela FAB (o P2V-5) estava entre as mais avançadas e começou a ser construída a partir de 1951. Os primeiros exemplares brasileiros (designados P-15) chegaram a Salvador em fins de 1958. Eram excelentes aeronaves de patrulha e ASW em 1963, perdendo apenas em tecnologia para os novíssimos S2F Tracker.
No Nordeste a FAB ainda contava com os veteranos B-17 para auxiliar as tarefas dos P-15. Estes aviões ficavam baseados em Recife (PE) e pertenciam ao 6º Grupo de Aviação (GAv). Não dispunham de nenhum equipamento especial para esclarecimento e o reconhecimento era totalmente visual. As versões SAR (SB-17G) e de reconhecimento aerofotográfico (RB-17G) da famosa “fortaleza voadora” foram utilizadas pela FAB a partir de 1951. Das 13 aeronaves recebidas, três haviam sido perdidas até 1963. Por serem aviões ultrapassados, sua aposentadoria na FAB não demoraria muito. 

O grande reforço viria de Santa Cruz, onde estava baseado o 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º/1º GAE) e seus P-16. Na época da "Crise da Lagosta", a FAB tinha recém incorporado 13 aeronaves Grumman S2F-1 (localmente designado P-16A) Tracker. O Tracker entrou em atividade na USN em 1954 e no início da década de 1960, ainda era a aeronave ASW embarcada mais moderna do mundo. Os aviões contavam com uma suíte eletrônica bastante complexa para a época, incluindo radar de busca, radar Doppler, radar-altímetro de baixa altitude, sensor MAD, sistema de contramedidas eletrônicas, “sniffer” e outros.  

P-15 Neptune da FAB

A formação do Grupo-Tarefa



Sob a denominação "Operação Lagosta", um GT deveria ser formado e enviado o mais breve possível para Recife. A idéia de constituir o GT Vermelho 12.2 com o cruzador Tamandaré, três contratorpedeiros da classe Pará e o Greenhalgh e, posteriormente, enviar outro cruzador e mais escoltas tão logo estivessem prontos, começou a se desfazer quando o estado do material flutuante foi apresentado. 

Com diversos problemas nas caldeiras e nos grupos destilatórios, o Tamandaré foi descartado de imediato. O Pará, com problemas na bomba de alimentação principal e falta de pessoal para guarnecer o navio, teve sua saída adiada para a parte da tarde do dia 24 e o Greenhalgh, com avarias em sua maquinaria, só pôde deixar o Rio de Janeiro na noite do dia seguinte (chegando ao Recife na tarde do dia 28. Desta forma, o GT 12.2 partiu para a cidade de Recife às 3:27h da madrugada do dia 24 somente com os contratorpedeiros Paraná (onde seguia o Comandante do Grupo-Tarefa, Contra-Almirante Boiteux) e Pernambuco.
Na embaixada dos EUA a movimentação era atípica para uma noite de carnaval. Durante a madrugada, o Adido Naval dos EUA telefonou ao Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), solicitando uma audiência urgente. A contragosto e em companhia do seu Ajudante-de-ordens, o CEMA recebeu o militar norte-americano numa audiência curta e pouco amistosa. 

O Adido Naval foi logo indagado sobre o real motivo de uma audiência no meio da madrugada. O Adido trazia uma mensagem do embaixador dos EUA. Este recebeu ordens diretas do Departamento de Estado para que os dois contratorpedeiros que partiram do Rio de Janeiro com destino ao Nordeste regressassem imediatamente. Segundo ele, a lei do Senado norte-americano que concedeu o empréstimo desses navios proibia o uso dos mesmos contra qualquer aliado do EUA como a França. 

Realmente, não só o Pernambuco e o Paraná, mas os outros dois contratorpedeiros da classe Fletcher (Pará e Paraíba) foram transferidos por empréstimo de cinco anos e, naquela época, ainda constavam na lista de unidades pertencentes à Marinha dos Estados Unidos. Esta era uma das facetas negativas dos acordos de transferência de material bélico dos EUA para as Forças Armadas brasileiras. 

A resposta do CEMA foi a seguinte: 

"Peço ao 'Capitain' para solicitar ao Exmo. Sr. Embaixador dos EUA que comunique ao seu Governo, em Washington, que, inspirado nos fundamentos do pan-americanismo, que tem como uma das principais fontes a Doutrina Monroe, formulada por um Presidente dos EUA há 140 anos, o Brasil cortou relações diplomáticas, e depois, manteve o estado de beligerância com o Japão, em virtude da agressão ao território americano sofrido com o ataque a Pearl Harbor. O Brasil honrou o seu compromisso assumido por ocasião da Conferência de Havana em 1940, onde se declarou que um ataque por um Estado não americano contra qualquer Estado americano é considerado como ataque contra todos os Estados americanos. Sabemos que os EUA têm compromissos políticos e militares com a França em virtude do tratado do Atlântico Norte, firmado em 1949. Entretanto antes desse Tratado, os EUA em 1947, nesta cidade do Rio de Janeiro, lideraram a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que teve como Propósito prevenir e reprimir as ameaças e os atos de agressão a qualquer do países da América, baseado nos princípios de solidariedade e cooperação interamericanas. Assim sendo, configurando a agressão francesa, como anunciado em Paris, o Brasil espera que os EUA honrem os seus compromissos na defesa coletiva do continente americano declarando guerra contra a França, como o Brasil honrou seus compromissos declarando guerra contra os japoneses na 2ª Guerra Mundial, sem nunca ter sido agredido por eles. E está dispensado ... e pode se retirar."

Encontro com os navios franceses

Enquanto o GT 12.2 seguia para Recife, os aviões da FAB procuravam pelos navios franceses. Quando os P-16 do 1º/1º GAE chegaram a Recife no dia 24, os Neptune já realizavam missões de esclarecimento a partir de Salvador (BA). Conforme planejado, os quatro aviões do 1º/1 º GAE passaram então a realizar vôos de esclarecimento armado em rotas paralelas. Logo na manhã do dia 25 dois pesqueiros foram localizados no través de Macau (RN). Com esta descoberta, os esclarecimentos paralelos foram substituídos por vôos de vigilância e os P-16 deslocaram-se de Recife para Natal (RN). 
A cerca de 250 milhas NNE de Natal, foi localizado um "grande navio escuro" que atuava como frigorífico, onde os pesqueiros desovavam sua pesca. Ao seu lado encontrava-se um navio tender para serviços de manutenção. Mas a grande descoberta ocorreu no dia 26 de janeiro. Patrulhando distante da costa, um P-15 detectou a presença de um navio no seu radar rumando para Fernando de Noronha. Através de reconhecimento visual, o avião identificou o mesmo com sendo o contratorpedeiro Tartu da Marinha da França.

Desde aquele momento o contratorpedeiro francês passou a receber vigilância aérea constante. Numa dessas missões, surgiu a oportunidade de planejar a primeira de caráter noturno para os P-16 da FAB. Duas aeronaves foram escaladas. Voavam em formação aberta e a baixa altitude com todas as luzes apagadas e silêncio de rádio total. A aproximação do alvo era feita com o uso dos equipamentos passivos de guerra eletrônica que detectavam as emissões do radares de busca aérea do Tartu. Próximos ao navio, as aeronaves cerraram formação e baixaram para 100 pés de altitude. Quase sobre o contratorpedeiro, os aviões acionaram tudo que pudesse iluminá-lo. Foi uma surpresa total. Foi possível observar, inclusive, homens desorganizadamente correndo pelo convés como se estivessem assumindo postos de combate.

Mas normalmente a cobertura aérea era realizada a uma altura média de 1.000 pés. Algumas vezes a tripulação do Tartu realizava exercícios de tiro, possivelmente tentando inibir as aeronaves brasileiras. Como resposta, os P-16 deixavam a área voando baixo e passando ao lado do Tartu, exibindo claramente seus foguetes sob as asas.

Na tarde daquele dia o Pará juntou-se ao GT 12.2 e os três contratorpedeiros atracaram no porto do Recife. Durante a travessia Rio-Recife a tripulação dos dois navios realizou diversos exercícios com o propósito de aprimorar o adestramento da tripulação.

Ainda no dia 26 a estação radiogoniométrica de Pina interceptou uma mensagem do contratorpedeiro Tartu para os lagosteiros franceses, marcando com eles um ponto de encontro na manhã do dia 28. O ponto ficava a aproximadamente 100 milhas de distância da cidade do Recife. Em função da possível antecipação do Tartu, um avião da FAB sobrevoou o local já no dia 27. O navio foi localizado às 22:55h entre o litoral brasileiro e o arquipélago de Fernando de Noronha. A situação ficava tensa com o passar das horas.

A informação da aeronave da FAB antecipou a saída do GT 12.2. Passava da meia-noite quando os contratorpedeiros Paraná e Pará deixaram o porto do Recife rumo ao ponto de encontro marcado pelo Tartu. O Pernambuco, com problemas, não pôde acompanhar o grupo e ficou no porto. A missão do GT era "vigiar os navios franceses, informando os seus movimentos através do acompanhamento radar, fora do alcance visual".

Foi uma madrugada de muitas expectativas. Na sede da 2ª Zona Aérea o movimento de oficiais superiores era intenso e fora do comum. Logo na manhã do dia 28 as emissoras de rádio já divulgavam os acontecimentos das últimas horas para uma população apreensiva. O Governo também acompanhava os acontecimentos de perto. Pairavam muitas dúvidas sobre a atitude do navio de guerra francês quando encontrasse os navios da MB. 
Contratorpedeiro Francês Tartu

Em muitos aspectos o Tartu era equivalente aos Fletcher da MB. Os armamentos possuíam similaridades (inclusive o calibre principal era o mesmo) e até o arranjo propulsor (formado por duas turbinas a vapor, quatro caldeiras e dois eixos), as potências desenvolvidas e a velocidade máxima eram semelhantes. Em relação aos sensores, o radar de busca combinada DRBV22A era equivalente ao SPS-6 dos Fletcher, mas o grande diferencial do contratorpedeiro francês era a combinação deste último com o radar DRBI, fornecendo um quadro tridimensional das ameaças aéreas.

A bordo do Paraná a tensão era grande. O navio navegava às escuras. Os operadores dos radares mantinham atenção total às telas repetidoras e os vigias noturnos redobravam a vigilância.

Quando o dia raiou, uma forte neblina dominava a atmosfera. Passava das dez da manhã quando o Paraná estabeleceu contato radar com um alvo na superfície. Distância: 36000 jardas; marcação: 330º. Tinha que ser o Tartu. As condições climáticas não permitiram uma identificação visual à distância. Era necessário uma aproximação. O Paraná, que navegava no rumo 000º, manobrou 20º para bombordo e aproximou-se do alvo. Antes de atingir a distância de 30.000 jardas, o navio passou a se comunicar por holofote. Depois dos cerimoniais marítimos, o Paraná aproximou-se a 27 nós (o Pará vinha logo atrás em velocidade reduzida) e na distância de 14.400 jardas identificou o navio de guerra como sendo o D 636 Tartu, acompanhado de seis lagosteiros praticamente parados. Os contratorpedeiros brasileiros acompanharam os navios franceses por algum tempo e monitoraram as freqüências de rádio, depois se afastaram. Do alto, um Neptune da FAB também observava os movimentos.

Deste dia em diante, foi estabelecida uma escala de patrulha com o propósito de manter sempre um navio próximo dos pesqueiros e outro à distância, podendo intervir quando necessário.
 

P-16 da FAB



A MB envia mais navios

Antes mesmo do Paraná detectar o Tartu, o contratorpedeiro Araguari havia partido do Rio de Janeiro na madrugada do dia 27 rumo ao porto do Recife. Às 9:45h sofreu uma avaria no leme e um problema nas máquinas quando estava no través de Cabo Frio. O problema só foi resolvido às 14:00h e o navio voltou a navegar, chegando ao porto do Recife no dia 1º de março. 

O Barroso suspendeu do AMRJ no dia 28 de fevereiro, após alguns reparos emergenciais. De qualquer forma, o navio não estava preparado para uma missão como esta que se impunha. Existiam problemas relacionados à propulsão do navio, falta de adestramento da tripulação, grandes deficiências materiais, de armamento e munição.

Das oito caldeiras, a viagem começou com as nº1, 2, 3 e 4 em funcionamento sendo que a de nº4 tinha sido emergencialmente reparada no dia 26. Durante a viagem, esta mesma caldeira apresentou um novo tubo perfurado e a velocidade que era de apenas 15 nós, foi reduzida para pouco mais de 10 nós. Técnicos do AMRJ estavam a bordo para auxiliar no reparo das demais caldeiras, mas mesmo assim o navio participou de toda a comissão com apenas três em pleno funcionamento, o mínimo necessário para o navio se "arrastar" sobre o mar. 

Outros problemas se acumulavam e tornavam a vida difícil no interior do navio. Dois tanques de água potável estavam com furos para o mar, obrigando a tripulação a economizar água. O turbo gerador nº4 estava no AMRJ sofrendo reparos, o que reduzia a capacidade de geração de energia elétrica a bordo em 25%. 

A situação na parte de armamentos e munições não era mais animadora. O Barroso não dispunha de munição de 6". Mas mesmo que tivesse, uma de suas torres (a nº3) estava inoperante desde 1958 e outras duas sem o controle automático. As demais só podiam operar em semi-automático. Somente duas das seis diretoras de tiro estavam em funcionamento e os canhões de 5" estavam sem o controle automático da diretora. 

Existiam ainda outras questões como o entupimento freqüente das redes de esgoto e de combate a incêndio e um dos tanques de óleo combustível estava sem utilização por estar vazando para o mar. Com todos estes problemas, o Barroso só foi capaz de chegar ao Recife no dia 6 de março, após uma viagem de quase uma semana! 

Na noite do dia 1º de março, o submarino Riachuelo, em companhia da corveta Imperial Marinheiro, transformada em navio de socorro e salvamento, zarparam para Recife e Natal respectivamente. Embora o Riachuelo estivesse equipado com torpedos Mk 23, nenhum deles possuía cabeça de combate porque a MB não dispunha de nenhum exemplar. Coube à FTM (Fábrica de Torpedos da Marinha) encher 9 cabeças de exercício com trotil e rezar para que as mesmas funcionassem em combate. As cabeças seriam recebidas pelo submarino quando este chegasse no Recife.

Antes mesmo do Riachuelo fazer-se ao mar, o contratorpedeiro Marcilio Dias desatracou do AMRJ. Levava uma carga preciosa de torpedos Mk-15 para os contratorpedeiros da classe Pará. Sua viagem com destino ao Recife foi cheia de percalços. No cair da noite do dia 2 de março teve uma avaria de maquinas, mas conseguiu seguir viagem por meios próprios após o reparo da mesma. No dia 3 de março o navio apagou e ficou sem propulsão por 5 horas. Reparos de emergência permitiram que o mesmo rumasse para Ilhéus a fim de aguardar reboque. O Barroso veio ao seu socorro e foi decidido que o mesmo deveria aguardar a chegada da corveta Imperial Marinheiro para rebocá-lo. 

No dia seguinte, 2 de março, foi a vez do cruzador Tamandaré partir do Rio de Janeiro. Mesmo com as caldeiras nº1, 2 e 4 necessitando de retubulação e as demais com vazamentos grandes, o navio seguiu rumo ao Nordeste. Finalmente no dia 3 suspenderam os contratorpedeiros da classe A Apa e Acre. Juntamente com o Marcílio Dias, esses quatro navios acabaram constituindo o GT 12.4 baseado provisoriamente em Salvador devido ao congestionamento do porto do Recife e ao pequeno calado e a pouca infra-estrutura dos portos de Natal e Cabedelo (PB). 

Por ordem do EMA, a Força de Minagem e Varredura, composta pelos navios Javari, Juruá, Jurema e Jutaí, também foi deslocada para o Nordeste, chegando ao porto do Recife em 1º de março. Os CTE Bertioga e Baependi, então executando pesquisas oceanográficas no Maranhão, também foram solicitados para apoiar a Operação Lagosta. Como pode ser observado pela listagem acima, qualquer coisa que flutuasse e atirasse (mesmo que em precária situação) estava sendo deslocada para o Nordeste.
Submarino Riachuelo S-15

Continua...

Por Guilherme Poggio
Fonte - Poder Naval Online: http://www.naval.com.br



Operação Lagosta - Parte I

Operação Lagosta - Parte I

Apesar do nome parecer cômico, foi um dos mais expressivos eventos militares do Brasil após a segunda guerra mundial, uma situação conflitante com uma super potência militar devido a divergências econômicas e que por pouco não se transformou em um conflito armado. Com o argumento do Pré-Sal, esta página esquecida de nossa história e que se quer é divulgada, merece atenção no momento em que nos voltamos para a Amazônia Azul e temos noticias da reativação da Quarta Frota dos EUA.  De leitura obrigatória para entender a Amazônia Azul e a reativação da Quarta Frota, sugiro estes artigos:



União contra a Quarta Frota


A seguir o relato desta pagina esquecida da nossa história pelo site Poder Naval.



Operação Lagosta 

A guerra que não aconteceu

O céu, meio encoberto, tornava aquela noite ainda mais escura. Havia apenas uma ligeira brisa que soprava sobre a superestrutura, deixando aquela madrugada bastante agradável para os atentos vigias noturnos. Contrastando com a plácida noite, o clima no interior do Centro de Informações de Combate (CIC) do contratorpedeiro Paraná era de muita tensão. Com toda a atenção voltada para as telas repetidoras dos radares, os operadores acompanhavam cada irradiação das antenas com o propósito de identificar um alvo em específico: o contratorpedeiro francês Tartu. O indesejado navio rumava para a costa do Nordeste, por ordem direta do seu presidente, para defender pescadores franceses que atuavam ilegalmente na plataforma continental brasileira. 


Sozinho o Tartu não era uma grande ameaça, mas bastava uma atitude precipitada e todo o Grupo Tarefa do navio-aeródromo Clemenceau, que estava na costa oeste da África, atingiria o litoral do Nordeste brasileiro em aproximadamente três dias. 



Às quatro horas da madrugada o pessoal do quarto d´alva assumiu o serviço e aqueles que estavam em seus postos desde a meia noite foram descansar, ou pelo menos tentaram. Todos a bordo do Paraná tinham ciência das limitações, tanto materiais como de adestramento. Mas o que mais tirava o sono dos homens era a quantidade de munição a bordo, suficiente para apenas meia hora de combate e nenhum torpedo para disparar. Mesmo com todas essas dificuldades, eles procurariam defender um recurso natural de propriedade nacional - a lagosta da plataforma continental. 



O interesse estrangeiro pelos recursos naturais do Brasil é tão antigo quanto o descobrimento do próprio território pelos portugueses. Nas primeiras décadas do século XVI, corsários franceses passaram a atuar na costa brasileira, extraindo ilicitamente o pau-brasil para as indústrias têxteis da Normandia. A situação agravou-se durante o reinado do Rei Francisco I, que passou a questionar a legitimidade de Portugal em relação à colônia do Brasil (para maiores detalhes sobre este episódio, ver o texto sobre o Primeiro Combate Naval no Brasil). 



Naquela época a diplomacia falhou e a situação teve que ser decidida pela via militar. Embora não configurasse um conflito direto entre os reinos de Portugal e França, a disputa pelo controle do Brasil deflagrou uma verdadeira guerra colonial. Passaram-se quase cem anos de intermitentes combates até que os franceses fossem definitivamente expulsos do Brasil. Pouco menos de três séculos e meio depois a história quase se repetiu. 


A Lagosta

Durante séculos, a captura da lagosta ao longo da costa do Nordeste brasileiro foi realizada de forma rudimentar, somente para subsistência das famílias da região ou abastecimento do pequeno mercado local. A partir da década de 1930 o crustáceo começou a ter maior valor comercial. 


Mas esta atividade econômica só despertou o interesse de companhias estrangeiras na década de 1950, quando empresas japonesas decidiram enviar barcos de pesca para o litoral do Nordeste. A licença foi emitida e, em contrapartida, o Governo Brasileiro exigiu a nacionalização de parte da tripulação dos barcos. Com dificuldade em cumprir tal exigência, os japoneses preferiram abandonar a pesca e comprar a lagosta diretamente dos jangadeiros brasileiros, obtendo uma boa lucratividade. Desta forma, estabeleceu-se uma atividade regular de captura naquela região, tornando-se realmente uma atividade econômica de valor. Em paralelo, a atividade contribuiu para o desenvolvimento da indústria de congelamento, além do aumento da atividade nos portos de Fortaleza e Recife por causa da exportação do crustáceo. Em 1955 exportaram-se 40 toneladas de lagosta. Cinco anos depois, este número subiu para 1.200 toneladas. 



O interesse francês na costa do Nordeste surgiu no início da década de 1960, ou seja, alguns anos depois dos acordos com o Japão. Uma delegação foi enviada ao Recife para negociar a vinda de três barcos de pesca franceses com o intuito de realizar pesquisas sobre viveiros de lagosta. A CODEPE, órgão federal responsável pelo desenvolvimento da pesca no país, emitiu uma autorização de pesquisa em março 1961, válida por 180 dias. Esta licença contemplava apenas três embarcações. 



No entanto, autoridades brasileiras já estavam preocupadas quanto ao real motivo da vinda dos pesqueiros. Foi decidido que representantes da Marinha do Brasil embarcariam nos navios franceses para atuar como fiscais de pesca. Após alguns embarques, os militares constataram que os navios estavam realmente capturando lagosta em larga escala e realizando pesca predatória com arrasto. Além disso, a licença de pesquisa emitida limitava-se a três barcos e a França enviou quatro. A partir do relatório dos militares embarcados decidiu-se pelo cancelamento da licença e o último pesqueiro partiu de volta para a França no final de abril de 1961. 


Em novembro os franceses solicitaram uma nova licença para a realização de pesquisas e experiências no litoral nordestino. Desta vez foi argumentado que elas seriam realizadas na plataforma continental, fora das águas territoriais brasileiras. E assim, uma nova leva de pesqueiros franceses chegou ao litoral nordestino no final de 1961. 

Apresamentos realizados pela MB



Os desentendimentos começaram logo no início de 1962. No dia 2 de janeiro a corveta Ipiranga apresou o pesqueiro francês Cassiopée, cerca de dez milhas da costa, por estar capturando lagosta sem autorização do Governo Brasileiro. E pouco tempo depois a corveta Purus avistou dois pesqueiros (Françoise Christine e Lonk Ael) próximos à costa do Rio Grande do Norte, mas por determinação do Estado Maior da Armada (EMA) não foram apresados. 


O apresamento do Cassiopée gerou uma batalha diplomática entre os dois países que se estendeu por todo o ano de 1962. O Brasil sustentava a tese de que a lagosta era recurso econômico de sua plataforma continental (independentemente de estar no limite do mar territorial) e somente a ele caberia a emissão de autorização de captura do crustáceo. A França argumentava que a lagosta era um "peixe", pois se deslocava de um lado para o outro dando saltos e não andando sobre a plataforma continental. Neste caso aplicar-se-iam (segundo os franceses) as regras da convenção de Genebra de 1958, que estabelecia as bases para pesca em alto mar (é importante destacar que nenhum dos dois países tinha assinado tal convenção). Segundo o comandante Paulo de Castro Moreira da Silva a fraca argumentação francesa levaria à seguinte frase: 

"por analogia, se lagosta é um peixe porque se desloca dando saltos, então o canguru é uma ave." 

A batalha diplomática não intimidou os pesqueiros franceses, e muito menos reduziu a ação dos navios da MB. O contratorpedeiro Babitonga apresou o pesqueiro francês Plomarch no dia 14 de junho e o Lonk Ael no dia 10 de julho ao longo do litoral do Rio Grande do Norte e a corveta Ipiranga os pesqueiros Folgor e Françoise Christine em agosto do mesmo ano no litoral cearense. Os capitães dos barcos eram orientados quanto à irregularidade cometida, "convidados" a assinar um termo de compromisso e não mais voltar à costa brasileira (embora muitos assim o fizeram). 



Contratorpedeiro Babitonga D-16


No início de 1963, uma missão francesa chegou ao Brasil com o intuito de negociar a questão da pesca da lagosta, bem como estabelecer as bases comerciais de um possível acordo binacional. Esta mesma missão informou que dois barcos de pesca já se dirigiam para o litoral brasileiro. Através do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil respondeu que a permissão não seria dada aos barcos e solicitou que o governo francês não permitisse a vinda destes para não prejudicar as negociações em curso. A França não só confirmou a vinda dos dois barcos, como também anunciou a partida de outros, independentemente da ameaça de serem apresados. 


Sabendo da vinda de pesqueiros franceses para o litoral nordestino (sem a devida autorização), a MB colocou em alerta os seus navios que executavam patrulha na área. No dia 30 de janeiro, a corveta Forte de Coimbra detectou a presença de três pesqueiros estrangeiros e solicitou que os comandantes dos mesmos rumassem para Natal. Em função da resposta negativa, foi solicitada novas instruções de terra. O comandante do 3º Distrito Naval não vacilou e foi enérgico em suas palavras. A corveta deveria usar a “força na medida do necessário”. Possivelmente os franceses não entendiam português, mas o soar do alarme de “postos de combate” e a visão da tripulação da corveta guarnecendo o canhão da proa e as demais metralhadoras de 20 mm mudou a idéia dos comandantes dos pesqueiros. 



No dia 5 de fevereiro os barcos e suas respectivas cargas foram liberados e, por intervenção do presidente Goulart, uma autorização para captura da lagosta foi emitida para os barcos franceses no dia 8. A mesma decisão que agradou os estrangeiros gerou um grande desconforto interno para o governo federal. Por força da opinião pública e de pressões políticas (principalmente vindas no Nordeste), o governo teve que voltar atrás e cancelar a autorização. A decisão foi tomada no dia 18 de fevereiro e os pesqueiros deveriam encerrar a captura da lagosta no dia 20. 



A mudança de atitude do Governo do Brasil despertou a ira do presidente de Gaulle. Alguns atribuem a este episódio a origem da frase: 



"Le Brésil n'est pas un pays serieux" 
(O Brasil não é um país sério) 


Charles De Gaulle


Porém, numa outra versão dessa estória, o embaixador brasileiro em Paris (Alves de Sousa), em seu livro de memórias, afirmou que a frase foi dita por ele numa entrevista para um repórter brasileiro. 



De qualquer forma, as relações com o Governo da França, que já não eram boas, degradaram-se rapidamente após a notícia da suspensão da autorização. A reação foi enérgica e desproporcional à situação. Por ordem do presidente de Gaulle, um navio de guerra francês seria enviado para proteger os barcos pesqueiros. 


Extraordinariamente o embaixador brasileiro em Paris reuniu-se com o Secretário-Geral do Quai-D'Orsay. O embaixador francês foi alertado sobre as graves conseqüências que poderiam advir da presença de uma embarcação militar francesa no Nordeste e que o mesmo não deveria desprezar a hipótese de irrupção de um eventual conflito. A resposta francesa, direta e curta, limitou-se à seguinte frase: "já estamos em conflito". A diplomacia estava em cheque e uma escalada militar começava a tomar forma. Estaria a MB devidamente equipada para enfrentar esta crise? 

A Marinha do Brasil no início dos anos sessenta

A Marinha do Brasil no início dos anos sessenta era um reflexo das ações desenvolvidas por ela ao longo da II Guerra Mundial, período que influenciou fortemente o pensamento estratégico e a sua capacidade operativa. A defesa do tráfego marítimo e, conseqüentemente, a ação anti-submarina nortearam os programas de reaparelhamento do pós-guerra. Nesse aspecto, unidades como contratorpedeiros, contratorpedeiros de escolta e caça-submarinos representavam aquisições prioritárias.

A bipolarização do mundo e o alinhamento do Brasil com os países do ocidente também trouxe implicações para a Marinha. Em 1947 foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), basicamente um instrumento político de auxílio às Forças Armadas latino-americanas contra a expansão do comunismo na América. Na esteira do TIAR, foram assinados "Acordos de Assistência Militar" (MAP - Military Assitence Program), no caso do Brasil em 1952, e criadas operações conjuntas denominadas UNITAS (a partir de 1960).

Se por um lado os acordos forneciam material militar por custos muito baixos, por vezes simbólicos, o equipamento não era dos mais atualizados e só atendia aos interesses do país fornecedor (os EUA). Em relação a este segundo aspecto, a doutrina norte-americana pregava a utilização das marinhas dos países periféricos (incluindo o Brasil) em ações puramente anti-submarinas e primordialmente costeiras num eventual conflito naval Leste X Oeste no Atlântico Sul.

Porém, a unidade mais importante da MB em 1963 era o NAeL Minas Gerais, comprado da Grã Bretanha em 1956 e reformado entre 1957 e 1960. É provável que os EUA não tenham vetado a venda do mesmo porque o navio-aeródromo atuaria como núcleo de forças anti-submarinas, exatamente o que o "Tio Sam" esperava da MB. Foi até por esse motivo que a FAB pôde adquirir os modernos aviões anti-submarinos Grumman S2F Tracker. O problema principal era o relacionamento entre os Ministérios da Aeronáutica e da Marinha, que não se entendiam sobre a responsabilidade da operação das aeronaves embarcadas. 
Os dois cruzadores da MB (Barroso e Tamandaré) foram adquiridos antes da assinatura do MAP e, para que existisse um equilíbrio regional, navios semelhantes foram fornecidos ao Chile e à Argentina. Numa época onde o SSM era apenas um sonho, sua bateria principal de 15 canhões de 6" fazia a diferença no mar.

Foi também através do MAP o Brasil adquiriu, por empréstimo, quatro contratorpedeiros da classe Fletcher (aqui denominada classe Pará) entre 1959 e 1961. Embora fossem unidades construídas durante a II Guerra Mundial, receberam atualizações antes da transferência e eram as escoltas mais modernas da MB no início dos anos sessenta. Em relação ao armamento, não existiam grandes novidades, mas as instalações do CIC e os seus sensores não tinham equivalentes na MB até então. O radar de vigilância aérea SPS-6C era capaz de detectar uma aeronave pequena a 60 milhas de distância, voando entre 6.000 e 30.000 pés. O radar de superfície SPS-10 podia detectar um contratorpedeiro a 15 milhas e um periscópio ou snorkel (exposto de forma contínua e em condição de mar 1-2) a 10.000 jardas. Outra novidade para a MB era o seu moderno (para a época) sonar de casco SQS-29.

Existiam ainda outros nove contratorpedeiros na lista da MB. Eram três classe M de 2.200 t e seis classe A de 2.180 t, todos eles construídos no Brasil. Por serem unidades projetadas nos anos trinta, estavam totalmente desatualizadas para a guerra anti-submarina do início da década de 1960. Completavam as escoltas de superfícies os oito contratorpedeiros de escolta (CTE) classe Bertioga. Estes navios foram adquiridos durante a II Guerra Mundial junto à USN e já estavam no final de suas vidas como CTE (algum tempo depois foram transformados em Aviso).

Naquela época a Flotilha de Submarinos era vista primordialmente como um instrumento de adestramento das forças anti-submarinas e não possuía o papel dissuasório atual. Por esse motivo foram adquiridas somente duas unidades fleet type (classe Gato) através do MAP em 1956 para substituir a velha frota de submarinos de construção italiana.

Entre 1954 e 1955 foram incorporadas dez corvetas da classe Imperial Marinheiro, sendo que uma delas foi transferida para a Flotilha de Submarinos. Estes navios, construídos na Holanda, preencheram uma grande lacuna na organização do serviço de salvamento marítimo nos distritos navais. Eram navios polivalentes e também executavam missões de patrulhamento costeiro.

A Força de Minagem e Varredura recebeu razoável reforço no início dos anos sessenta com a aquisição (via MAP) de quatro unidades da classe Javari. Completando o quadro, existiam ainda cinco (de um lote inicial de seis) caça-submarinos da classe Piranha (todos de construção nacional) que, posteriormente, foram transferidos para a Força de Minagem e Varredura (FMV). Nesta época a FMV ficava sediada no Rio de Janeiro e era subordinada ao Comando do 1º Distrito Naval. O quadro de material flutuante da MB ainda era composto por outras unidades auxiliares como navios-transporte, navios-hidrográficos e navio-escola, mas não existia um navio-tanque.


Cruzador Tamandaré C-12

Contratorpedeiro Classe Pará


A força naval francesa 

No dia 11 de fevereiro de 1963 partiu de Toulon (França) um Força-Tarefa capitaneada pelo navio-aeródromo Clemenceau. Acompanhando o navio-aeródromo seguiam o cruzador De Grasse, os contratorpedeiros Cassard, Jaureguiberry e Tartu (classe T53), as corvetas Le Picard, Le Gascon, L'Agenais, Le Béarnais, Le Vendéen (todos classe T52), o navio-tanque Baise e o Aviso Paul Goffeny . A princípio, deveria ser somente mais uma comissão pela costa oeste da África para mostrar bandeira e realizar exercícios de rotina. 


A bordo do Clemenceau estavam aeronaves Alizé da esquadrilha 4F, Aquilon da 16F e alguns helicópteros S-58 (semelhantes aos H-34 do 2º/1º GAE). Nesta época a "Aeronavale" ainda não tinha adquirido os caças F-8 Cruzader, embora testes bem sucedidos com uma aeronave proveniente do USS Saratoga tenham ocorrido no primeiro semestre de 1962. O papel de caça da frota era exercido pelos velhos Aquilon (versão do Sea Venom fabricada sob licença na França), num de seus últimos embarques operacionais com a "Aeronavale". Os Etendard IV não estavam plenamente operacionais nas atividades embarcadas e o primeiro exercício com estes jatos estava programado para maio daquele ano.

O De Grasse era o primeiro de uma classe homônima de três cruzadores. Esta classe era formada por escoltas antiaéreas que deslocavam pouco mais de 9.000 t. Possuíam oito reparos duplos de 127 mm e 10 reparos duplos de 57 mm. Também com ênfase na defesa antiaérea eram os contratorpedeiros da classe Type T53. As cinco escoltas menores compunham a classe T52, corvetas (denominadas "escorteur rapide" na Marinha da França) especializadas em ações anti-submarinas. 


Em 21 de fevereiro, estes navios chegaram à Dakar e, posteriormente, seguiram para Abidjan. Porém, uma das escoltas do Clemenceau tomou rumo diferente. Era o Tartu, que solitariamente seguiu para a costa brasileira conforme instruções do Governo francês. Suas instruções eram: 



- Controlar o movimento dos pesqueiros a fim de que não se aproximassem do limite de 12 milhas e; 



- Assegurar aos mesmos pesqueiros a continuação da pesca de lagosta além daquele limite. 



Esta informação foi transmitida ao Embaixador brasileiro em Paris no próprio dia 21, quinta-feira. Mas uma informação sem confirmação indicava também o deslocamento do cruzador De Grasse na companhia do Tartu. De qualquer forma, as demais unidades francesas na costa ocidental da África estavam tão perto do local da crise que não seria necessário mais do que dois dias de navegação para chegarem à Natal. No caso das aeronaves embarcadas, apenas algumas horas de vôo. 

Navio-aeródromo Clemenceau

Caça Sud-Est Aquilon

cruzador De Grasse

Continua ...

Por Guilherme Poggio
Fonte - Poder Naval Online: http://www.naval.com.br

sexta-feira, 18 de março de 2011

Salvem o Jack !







Gente, esse pobre anjo precisa de ajuda urgente... o tumor concentrado no fucinho dele daqui a pouco estará na cabeça e ele morrerá, a cirurgia tem q ocorrer até segunda. A Monica (umas das pessoas q resgatou o Iago) está batalhando pra conseguir ajuda para poder salvá-lo...

Venho a partir disto, pedir a ajuda de vcs... o caso dele é GRAVÍSSIMO!!! O relato de todos os e-mails q ela me passou seguem abaixo... peço pelo Jack. Vamos ajudá-lo, por favor...
Há o telefone de contato dela: 9606. 9823 (tim) e tb o e-mail: "Monica Probst" <mncprobst@yahoo.com>, . Ainda não tenho uma conta, mas quem puder e quiser ajudá-la com os gastos do Jack, escrevam ou liguem direto pra Monica, ok...
Obrigada de coração!!!
Se não puderem ajudar financeiramente, peço q ajudem divulgando o Jack... estamos correndo contra o tempo!!!
Bjuxx,
Pri


Oi pessoas, 
Acabei de ligar para para a Clínica onde o Jack está internado.
Conversei, chorei o máximo de desconto possível e consegui a cirurgia dele por R$ 450,00. Esse valor inclui a cirurgia, todos os exames e mais a internação de hoje até segunda-feira, dia em que ele será operado. Depois disso aos gastos não estão inclusos.
Até hoje já gastei R$ 230,00 com o primeiro veterinário mais R$ 100,00 de ontem com essa nova clínica, totalizando R$ 330,00. Por enquanto consegui arrecadar de doação R$ 85,00 da site da Vakinha mais R$ 60,00 de depósito na minha conta bancária, ou seja, um total de R$ 145,00.
Eu quero muito dar mais uma chance para esse cachorrino. Depois de tanto sofrimento ele merece a possibilidade de ter uma vida digna, tranquila e mais feliz.
Agradeço a todos que já ajudaram e continuo na luta, tentando arrecadar mais dinheiro para que essa cirurgia se torne viável, caso contrário ele vai sofrer até morrer. Não vamos deixar a peteca cair pessol, tenho certeza que unidos podemos fazer a diferença na vida desse bicnhinho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 
Se alguém precisar de mais esclarecimentos é só me ligar 9606-9823 (TIM)
Abraço,
PS.: Abaixo segue um pouco da história desse cachorrinho....(dois emails enviados ontém)
Monica :-
 
 
Pessoal, 
As notícias sobre o cachorrinho da Guarda do Cubatão não são muito boas. Hoje batizei ele com o nome JACK, então quando eu falar em Jack vcs já sabem a quem me refiro. 
Semana passada quando fui levar a casinha que o Jack ganhou de doação logo percebi que ele não estava melhorando. Estava muito desanimado e com o focinho mais inchado que o comum. Hje fui vê-lo e infelizmente constatei que a impressão que eu tive semana passada estava correta. O Jack piorou muito!!!!!! 
Como o veterinário que atendeu ele desde o início está com dificuldades de horário para me atender, devido a sua mudança de endereço, resolvi que o Jack não poderia esperar mais, então resolvi levá-lo a outro veterinário. Deixei ele na clínica as 13:00hs e vou buscá-lo por volta das 19:00hs. Ainda não conversei com o veterinário que está atendendo ele, mas posso dizer que foram feitas duas chapas de raio-x, uma do focinho e outra do pulmão. O veterinário teve que anesteziá-lo pois estava com muita dor e estava dificultando, ele não estava deixando mexer no ferimento. No final do dia terei um diagnóstico, aí então passo para vcs. 
Em anexo tem algumas fotos que tirei dele hoje na clínica. Em duas delas, ele já estava anestesiado.   
Abraço, 
Monica :-( 
  
  
PriFernandes Adote!!! (orkut)

ADOÇÃO+CASTRAÇÃO+EDUCAÇÃO!
Mantenha seu animal identificado!
REPASSEM:
 Castração a preços sociais, parcialmente subsidiada  pela Ong É O Bicho  e protetores independentes
 Idade mínima de 02 meses, em clinicas conveniadas a Ong. 
Informações para compra com os voluntários:
-Rio Tavares e Sul da IIha - 8425-3833 (Após as 15hs)/ 9132-0449 mvfloripa@yahoo.com.br
-São Jose – 8424-7925 / 9941-7443
-Norte da Ilha – 8462-5327/  9901 6641(preço pelo peso, consulte no fone).
-Agronômica: aumigo@gmail.com

Gente esta é uma campanha séria. Vamos ajudar.

Abraço

Fernando Franco

quarta-feira, 16 de março de 2011

Supermoon



Uma ‘Super Lua’ como não se via há 18 anos


No próximo dia 19 de março - sábado - o mundo verá a maior lua cheia dos últimos 20 anos. O fenômeno, conhecido como "SuperMoons" causará um espetáculo visual, quando a lua se aproximará da Terra a uma distância de 221,567 milhas da órbita – a distância mais próxima da Terra desde 1992. Já não se aproximava assim do nosso planeta há 18 anos, estando 6530 quilómetros mais perto do que é habitual. A influência do satélite natural da Terra irá sentir-se essencialmente nas marés.

Há quem lhe chame de “Super Lua” e o fenómeno acontece quando está mais perto do que é normal, dentro da sua órbita, e quando ao mesmo tempo é Lua cheia. Vai chegar ao ponto mais próximo da Terra, ou seja, vai aparecer mais exuberante à noite quando atingir o ponto máximo de um ciclo, conhecido como ‘Perigeu Lunar’.
Os investigadores, sismólogos e vulcanologistas, negam que possa ter consequências no balanço interno da Terra e ainda, segundo o Centro de Investigação Geológica (CIG) dos Estados Unidos, não teve qualquer relação com o terramoto que devastou o Japão.



Perigeu e apogeu

A ÓRBITA DA LUA NÃO É CIRCULAR. O astrônomo alemão Johannes Kepler mostrou que os corpos celestes se movem em elipses em volta de outros objetos mais massivos que eles próprios, como estrelas e planetas.

À primeira vista, as elipses se apresentam de formas muito diferentes, podendo ser bastante alongadas (como as órbitas dos cometas) ou quase indistinguíveis de uma circunferência (como a órbita da Terra). Porém, toda órbita elíptica tem um ponto de maior e de menor aproximação com o astro central.

No caso da Lua (ou de qualquer objeto natural ou artificial em órbita da Terra), chamamos a menor distância de perigeu (do grego peri, próximo, e gee, derivado de Terra) e a maior de apogeu.

Esses termos também recebem a denominação apsis; plural apsides. As apsides lunares não têm relação direta com as fases. Porém, ocasionalmente uma Lua Cheia coincide com o perigeu e com isso pode se apresentar até 30% mais brilhante que uma Lua Cheia no apogeu. Também fica significativamente maior 

No entanto, existe uma relação entre as fases da lua cheia e nova e as actividades sísmicas, já que a força da maré vai para além do normal, sob a influência do alinhamento da lua com o sol, e consequentemente aumentando a pressão sobre as placas tectónicas.

O CIG acrescenta que não seria o caso deste sismo, tendo em conta que aconteceu num período de fracas marés e o facto de ter ocorrido uma semana antes da "Super Lua" foi apenas uma coincidência. O deslocamento das placas vai-se formando ao longo de centenas de anos, descartando assim a possibilidade de ligação entre os fenómenos.

A variação da lua acontece por ela girar, na sua órbita, de maneira elíptica e não circular. O acontecimento do próximo sábado deve elevar a cinco por cento a força gravitacional entre o satélite lunar e o planeta, mas será imperceptível e não vai provocar grandes mudanças na Terra.